MANUEL MOTA
14 SETEMBRO 2010
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FICHA TÉCNICA
DIA DA RAREFAÇÃO E RUMOR DA DISTÂNCIA

video c.60”
com a participação de:
David Maranha, Gabriel Ferrandini, Riccardo Dillon Wanke




A rarefacção da distância.

O projecto que Manuel Mota propôs para o EMPTY CUBE, “dia da rarefacção e rumor da distância”, recriou a ligação entre a duração do evento e a sua vertente performativa, na sequência de outros projectos anteriores, que tinham abordado e concretizado acções semelhantes, contribuindo para redefinir as características deste projecto efémero.
Contudo, a obra que Mota apresentou, em colaboração com três músicos: David Maranha, Gabriel Ferrandini e Ricardo Dillon Wanke, dilatou, se assim se pode dizer, a experiência que cada um dos presentes pôde fruir. Esta dilatação, ou amplitude aumentada, tem a sua origem na peça que o autor e os seus colaboradores criaram durante cerca de sessenta minutos, transmitindo através da imagem e do som extractos de um universo imersivo que requer a total disponibilidade do espectador. Esta disponibilidade é activada pela concentração de diversos elementos dispersos em diferentes espaços. Desde o cubo onde ocorre o evento e o espaço, por vezes invisível, que o cerca, até ao interior da sequência de imagens filmada, o vídeo, constituindo uma obra única que se desenvolve segundo uma métrica singular.
O carácter performativo da obra não está na acção que se desenvolve perante nós, mas precisamente no apelo à nossa capacidade para deixar que o nosso corpo deixe fluir o rumor dos sons que passam para fora do espaço do cubo e a atenção sobre as imagens imprecisas e aparentemente imóveis.
O início da obra contém alguns dados que nos dão breves pistas sobre o percurso que iniciamos. A primeira frase, “Dia da visita críptica”, remete-nos para o título da obra e é o início, residual, de outros “dias” que se vão sucedendo nesta narrativa em que o tempo e o movimento são condensados, convidando o espectador a submergir-se no ambiente acústico e visual.
No início da obra aparecem as seguintes frases, sobre um fundo negro:

“Dia da visita críptica”

“Contorna harmoniosamente a escarpa antes da imersão”

“anestésica e pacificadora”

Em simultâneo com estas palavras, ouvem-se acordes de instrumentos acústicos, que nos chegam aparentemente de dentro do espaço do cubo e antecedem uma paisagem visualmente identificável, projectada em slow motion, como se fosse uma imagem quase estática. Da mesma forma, o negro que serve de fundo às frases é também imagem, quase um espaço visual, durante a projecção. Como uma imagem da abstracção do que é visível.
A relação entre a sucessão dos espaços visuais existentes na projecção vídeo e o som executado no espaço físico do acontecimento, o cubo, parece estar concentrada num único dispositivo. Este dado aparente e imperscrutável constrói a relação entre diferentes espaços, visíveis, não visíveis, ressonantes, pressentidos ou imaginados, e convoca-nos a partilhar um processo em que a temporalidade é medida pelo desenvolvimento da obra, sabendo a priori que a sua duração é limitada e irrepetível. Em certa medida, esta possibilidade da experiência e as suas condições são também definidas pela execução da componente musical da obra em tempo real, ainda que esta acção esteja afastada do nosso olhar. É pressentida, e por isso mais próxima como experiência.

João Silvério
Outubro 2010



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